sábado, 9 de abril de 2011

Rosalba refuta oligarquia e diz que povo escolhe.

Governadora diverge do marido, o ex-deputado Carlos Augusto Rosado, que diz que a família é “uma oligarquia desde 1890”. Para ela, termo é pejorativo e Mossoró “respira liberdade”
Agência Senado
“Minha família é tão grande que tenho 37 tios. Só eu e minha irmã Ruth entramos para a política", diz Rosalba Ciarlini

“Somos uma oligarquia desde 1890. Todos os nossos mandatos foram conquistados com o voto”, diz o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado (DEM-RN), antes de ser “corrigido” pela mulher, a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM). “Eu não aceito e considero inapropriado esse termo, que é pejorativo. Acho que ele se expressou mal. Não somos uma oligarquia, porque fomos eleitos livremente. O povo é que escolhe”, diverge a governadora. Os dois conversaram com o Congresso em Foco no saguão do Aeroporto Internacional de Brasília na noite da última sexta-feira (1º).
Rosalba ocupa hoje o cargo mais elevado entre todos os Rosado, família para a qual entrou há 36 anos após se casar com o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado. Prefeita de Mossoró por três mandatos, Rosalba é prima, pelo lado materno, de uma das principais lideranças da ala adversária da família, a deputada Sandra Rosado (PSB-RN), também prima de Carlos Augusto. “Nossos primos são nossos grandes adversários, mas o nosso grupo é hegemônico”, afirma o ex-deputado. “Quando éramos jovens, nossa luta era da pedra para o fuzil. Agora já estamos velhos”, acrescenta ele, lembrando que a disputa entre os dois grupos já foi mais acirrada. A governadora diz que poucos fazem política na família Ciarlini e que começou sua vida política no PDT, diferentemente do marido, que foi da Arena para o PFL, hoje DEM, partido de Rosalba. “Minha família é tão grande que tenho 37 tios. Só eu e minha irmã Ruth (Ciarlini) entramos para a política. Não temos tradição”, conta. Ruth é vice-prefeita de Mossoró, na gestão de Fátima Rosado (DEM-RN), prima de Carlos Augusto.
“Mãos limpas”
O ex-deputado estadual afirma que o segredo da longevidade dos Rosado no poder em Mossoró se resume a “trabalho, realizações e mãos limpas”. “Somos bisbilhotados o tempo todo. Nossa presença na política é oxigenada pelo voto”, diz. “Mossoró respira liberdade”, emenda Rosalba, antes de destacar que o município aboliu a escravatura em 1883, cinco anos antes da Lei Áurea, e abrigou o primeiro sindicato, a primeira eleitora e a primeira reitora do país. “E a primeira mulher a presidir a Unimed, que foi Rosalba”, acrescenta Carlos Augusto, referindo-se à cooperativa de médicos. O casal diz esperar que seus filhos não sigam a vida política. “Eles só terão meu apoio para entrar na política se estiverem bem resolvidos, porque não considero a política uma profissão, mas uma atividade”, afirma a governadora. “Nossa família era riquíssima. Empobrecemos na política. Restou apenas o patrimônio da atividade política”, afirma Carlos Augusto Rosado. Rosalba tem a missão de ser a primeira Rosado a concluir o mandato no governo do Rio Grande do Norte. Antes dela, apenas o sogro, Dix-sept Rosado, havia alcançado o degrau mais alto do Executivo potiguar. Mas o mandato foi interrompido precoce e tragicamente por um desastre aéreo, menos de cinco meses após a posse de Dix-sept como governador em 1951.
“Falácia” e “imaginário”
Alvo de 26 processos na Justiça movidos pela prefeita Fátima Rosado, o jornalista e blogueiro Carlos Santos diz que é uma “falácia” a declaração da governadora de que em Mossoró se respira “liberdade”. “Minha visão em relação aos Rosado é que eles possuem mérito para tamanha longevidade e apogeu. O patriarca Jerônimo Rosado preparou os filhos para o poder, investindo em densa formação educacional, baseada a partir de seus princípios positivistas", afirma. Jornalista há 26 anos, ele diz que a família procura dar uma “aura mitológica” para legitimar seu poderio. “É frágil a tese de que tudo foi conquistado pelo voto e, por isso, é democrático. Na verdade, temos uma atmosfera social e institucional aparelhada há decênios, para dar uma aura mitológica e de legitimidade a esse poderio. Boa parte deles tornou-se profissional da política e vive dela, ao contrário do que ocorria nos primórdios, na primeira e segunda geração Rosado", considera. Autor da tese de doutorado Memória e imaginário político na (re)invenção do lugar: os Rosados e o país de Mossoró, o geógrafo José Lacerda Alves Felipe diz que a exaltação de feitos históricos da cidade, como os citados por Rosalba, são uma característica da família. “Mesmo sem ter participado desses fatos, eles tentam se incluir neles”, explica o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Na sociedade local, eles se confundem com os heróis locais e seus feitos. A historiografia da cidade é recontada por eles, que selecionam fatos heróicos e históricos. Eles fazem com que a sociedade confunda esses mitos com eles mesmos. As coisas que eles criam é como se tivessem cumprindo uma ordem dos antepassados”, acrescenta Lacerda.
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