Jorge Viana, irmão de Tião Viana: relação familiar na política não é bem aceita |
Os irmãos Viana são chamados por adversários políticos de “novos coronéis do Acre”. No poder do estado há quase duas décadas, os irmãos Tião Viana (PT) – atual governador do Acre – e o senador Jorge Viana (PT), ex-governador do estado e ex-prefeito de Rio Branco, rechaçam esse título, apesar de serem na atualidade os principais protagonistas do grupo político mais poderoso do estado. Filho do ex-deputado federal e ex-prefeito de Rio Branco Wildy Viana e sobrinho do ex-governador do Acre Joaquim Macedo, o senador Jorge Viana afirma ser “contra oligarquias atuando na política”. O parlamentar diz ver com “certa naturalidade” o fato de ter parentes na política, “desde que não se tenha um processo oligárquico”, e avalia que “o Brasil não trata bem essa relação de famílias e pessoas que ocupam cargos públicos”. “O posicionamento de algumas pessoas em relação a isso beira o preconceito. Quem dera que todos os brasileiros tivessem uma ação política ativa, pois ação política significa cidadania”, diz. “Não se pode misturar pessoas que ocupam cargos na vida pública por meio do voto popular com pessoas que, também com alguma legitimidade, foram nomeados para cargos. Às vezes, no Brasil se mistura isso”, defendeu. O senador afirma ser “absolutamente favorável que, independentemente da filiação e da origem familiar, as pessoas possam exercer plenamente os seus direitos de cidadão, principalmente sendo candidatos”. Jorge, assim como Tião, começou a vida pública na militância no movimento estudantil, se filiando tempos depois ao Partido dos Trabalhadores (PT), numa época em que o PT era um “partido que não tinha perspectiva de poder”. “No Acre, a gente começou pelo caminho mais difícil, fazendo política no campo da esquerda. Meu pai, que sempre militou na política, nunca quis fazer disso uma correia de transmissão para que eu e o Tião fôssemos aliados políticos dele. Nós tínhamos uma posição radicalmente contra a dele”, conta Jorge, enfatizando o caminho independente trilhado pelos irmãos, na esquerda, em contrapartida ao pai, de direita, que exerceu carreira pelas extintas UDN e Arena. Não é determinante
Sem parente em outros cargos eletivos, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) acredita que o fato de ter parentes na vida pública ajuda, mas não é “determinante”. Sem tradições familiares no poder, Flexa Ribeiro defende que um mandato só prospera se tiver “trabalho e ação profissional”. “A tradição familiar pode ajudar, mas não é determinante para o sucesso eleitoral. O senador pelo Mato Grosso Pedro Taques, por exemplo, veio do Ministério Público. Ele nunca teve atividade política e surge no cargo mais elevado do Legislativo. Então, isso de tradição familiar é muito relativo. O sucesso na política depende muito mais do trabalho, da atividade e da ação do profissional, especialmente em seu estado de origem”, considerou.
Um dos fundadores do PMDB, o senador Pedro Simon (RS) avalia que o fato do parentesco na política deve ser analisado por dois ângulos. Primeiro, pelos exemplos de políticos que “efetivamente têm nomes tradicionais, mas que representam liderança e capacidade de força tão grande, que não se esgota com a morte, ou a saída do primeiro líder”. Segundo, de famílias que têm como objetivo dominar um estado. “Infelizmente, há casos na política brasileira dos chamados ‘chefes feudais’. São os conhecidos coronéis”, avalia. “Não é proibido um filho de político entrar na política. Mas quando um fulano coloca a mulher, o tio, o pai como suplente, por exemplo, como uma garantia de continuidade no poder, esse é um aspecto realmente negativo”, afirma. Para Simon, o aspecto negativo da influência familiar na política dentro do Congresso acontece quando um parlamentar perde a autonomia de atuação. “Na medida em que o parlamentar não tem autonomia, não tem personalidade própria no pensar, no expor ideias, no decidir e no votar, essa será uma pessoa que não somará, que não ajudará. Esse tipo de atuação pode, inclusive, prejudicar os trabalhos da Casa”, conclui.
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