O cantor Jair Rodrigues morreu
nesta quinta-feira (8), aos 75 anos, em sua casa em Cotia, na Grande
São Paulo. Exame preliminar do IML (Instituto Médico Legal) apontou
que a causa da morte foi um infarto do miocárdio. O assessor de imprensa do artista, Giuliano Spadari, afirmou ao UOL que Jair foi encontrado por funcionários da família, por volta das 10h, na sauna de sua casa. O velório do corpo do cantor --conhecido por sucessos como "Deixa Isso
Pra Lá" e por suas parcerias com Elis Regina-- será realizado na
Assembleia Legislativa de São Paulo, com início previsto para as 19h. O
enterro está marcado para as 11h de sexta-feira no cemitério do Morumbi.
Ainda de acordo com sua assessoria, Jair Rodrigues não apresentava
problemas de saúde e cumpria normalmente a agenda de shows. Uma de suas
últimas apresentações foi no dia 5 de abril no Auditório do Ibirapuera,
em São Paulo, com ingressos esgotados. Indiretamente, o músico também
estava "em cartaz" em São Paulo, interpretado pelo ator Ícaro Silva, em
"Elis, A Musical". O elenco prepara uma homenagem a ele na apresentação desta noite.
Jair Rodrigues deixa a mulher Clodine, dois filhos (os também cantores
Luciana Mello e Jairzinho) e quatro netos, que estão reunidos na casa do
artista. Parentes e amigos, entre eles o cantor Simoninha, filho de
Wilson Simonal, também chegaram para confortar a família. Em mensagem em
sua página no Facebook, Luciana Mello descreveu a morte como um "momento difícil e sofrido" e agradeceu o carinho recebido. A notícia da morte do cantor repercutiu imediatamente nas redes sociais
entre os colegas do samba, do rap e até da música sertaneja, à qual
Rodrigues também se associou ao cantar "Disparada", na TV nos anos 60.
"Foram muitos anos que a gente se relacionou em eventos. Ele irradiava
alegria", comentou Chitãozinho à TV Globo nesta manhã.
Jair, filho da bossa e pai do rap.
Jair Rodrigues de Oliveira nasceu no dia 6 de fevereiro de 1939 em
Igarapava, interior de São Paulo. Ele iniciou a carreira musical nos
anos de 1950 e, na década seguinte, atingiu o sucesso em programas de
calouros na televisão. Em 1964 gravou seu disco de estreia, "Vou de Samba com Você, que já apresentava um de seus maiores sucessos, "Deixa Isso Pra Lá",
considerado como uma das músicas precursoras do rap, que só viria a
nascer duas décadas depois. O álbum traz também "Brasil Sensacional" e
"Marechal da Vitória", canções que embalaram a vitória da seleção
brasileira de futebol na Copa do Chile. Ao lado de Elis Regina,
Jair Rodrigues se tornou um dos grandes nomes do samba ao participar do
notório "O Fino da Bossa", programa da TV Record que foi ao ar entre
1965 e 1967.
Com jeito brincalhão de malandro e voz potente,
Jair ficou nacionalmente conhecido através dos duetos com a
"Pimentinha". O trabalho rendeu três discos: "Dois na Bossa" nos volumes 1, 2 e 3, gravados ao vivo. Na época, foi um dos primeiros registros a atingir mais de 1 milhão de cópias. A interpretação de Jair ganhou dimensão que ressoa até hoje principalmente com a canção "Disparada",
de Geraldo Vandré e Théo de Barros. A canção sertaneja foi sensação no
Festival da Música em 1966, principalmente pelo fato de Jair ter ficado
conhecido como um artista do samba. "Disparada" acabou empatada com "A Banda", de Chico Buarque. Jair realizou turnês pela Europa, Estados Unidos e Japão. Em 1971,
gravou o samba-enredo "Festa para um Rei Negro", da Acadêmicos do
Salgueiro. Carismático, Jair Rodrigues revisitou o disco "Dois na Bossa" no palco dedicado a Elis Regina na Virada Cultural de 2012,
em São Paulo. Na ocasião, ele afirmou que Elis havia sido um "grande
amor". Ele voltaria a relembrar da época ao assistir o espetáculo "Elis,
a Musical", quando aplaudiu de pé e foi homenageado pelo público. Em julho do ano passado, Rodrigues se viu envolvido em uma polêmica
após aparecer em Brasília ao lado de artistas que se declaravam
contrários à aprovação de um projeto de lei que criou regras mais
rígidas para o funcionamento do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição). Posteriormente, o cantor negou ao UOL que estivesse do lado do Ecad: "Eu não represento o Ecad e o Ecad não me representa", disse. O último trabalho, o disco duplo "Samba Mesmo", é uma homenagem do cantor ao samba e à seresta, e foi lançado em fevereiro.
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