Um amigo encontrou
Cicero Lucena anteontem, numa doceria localizada na orla, e teve pena.
De bermuda, camisa amassada, barba por fazer, o senador parecia o
próprio retrato da tristeza. Quem não o conhecesse, disse o amigo, era
bem capaz de dar uma esmola, tamanho o desleixo e a melancolia que lhe
cobriam o semblante e o corpo. Cícero está com desgosto e não o recrimino por isso. A desilusão é um
sentimento muito forte. Quem não for resistente aos traumas emocionais,
corre o risco de não resistir. Da desilusão pode resultar a depressão,
que não é mais um estado de espírito e sim uma doença que pode levar à
morte.
O senador, se deprimido ainda não está, corre um sério risco de
entrar em parafuso. Foi traído pelos dois maiores amigos – Cássio Cunha
Lima e Ruy Carneiro – e, como se não bastasse, não recebeu a
solidariedade de ninguém.Não se viu na mídia, na imprensa, em canto nenhum, um só suspiro de
apoio ao senador, ninguém tomou suas dores, ele ficou sozinho no meio do
tiroteio, abandonado na rua da amargura.Logo ele, que tanto favor fez a uma certa turma de aproveitadores.E, achando pouco o que fizeram, os dois maiores amigos (ou ex-amigos)
ainda espezinharam. Ruy Carneiro, o menino que Cícero segurou pela mão e
botou na política, sugere que se candidate a deputado. E Cássio, por
quem Cicero renunciou duas vezes -numa delas, seria o candidato de
consenso apoiado até por Maranhão -, chega a desafiá-lo a bater chapa
com ele na convenção dos tucanos.Não foi sem motivos que Raimundo Rezende, amigo de Cícero e
testemunha ocular do seu martírio, afirmou, ao ser perguntado como via
essas traições praticadas contra o senador pelos seus quase
amigos/irmãos:Um cachorro fica perto do dono, um mendigo, mesmo depois de morto,
justamente porque o cachorro desconhece o que venha a ser covardia.
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