O país, apesar de vigoroso e sólido, vive complexas e profundas contradições desde sua fundação, em 14 de maio de 1948.
Jovem soldado israelense em Tel Aviv, cidade mais cosmopolita do país, caracterizada por seus arranha-céus e amplos bulevares. O município é a locomotiva de uma economia que cresceu, na última
década, a um ritmo médio de 3,4% ao ano, apesar da crise internacional
que abalou os Estados Unidos e a Europa a partir de 2008. Israel passou a
receber crescentes investimentos diretos em suas plantas industriais. As principais empresas dessa escalada produtiva são companhias de alta
tecnologia, concentradas em informática, equipamentos militares e
produtos farmacêuticos. As chamadas hi-tech respondem por quase 50% das
exportações do país. Instaladas majoritariamente no cinturão periférico
de Tel Aviv, viraram a meca das pessoas que se formam nas universidades e
sonham em fazer seu pé-de-meia. Leia mais: China tenta aumentar protagonismo no Oriente Médio ao receber Abbas e Nethanyahu.
Stephen Hawking boicota Conferência Acadêmica israelense.
Netanyahu se reuniará com Putin para discutir fornecimento de armas à Síria.
Ao atrativo da pujança econômica, somou-se o reforço das condições de
segurança, depois que os territórios palestinos ocupados foram
fisicamente isolados. As contas externas também são beneficiadas por
recursos destinados a Autoridade Palestina passarem obrigatoriamente
pelo Banco Central israelense, onde dólares e euros são convertidos em
schekels. As reservas cresceram aceleradamente, valorizando a moeda
nacional e criando oportunidades para empresários locais expandirem suas
atividades no exterior.
Custo social:
Esse dinamismo, contudo, teve pesado custo social. Além das despesas
com as forças armadas representarem cerca de 30% do orçamento nacional,
esse item também sobrecarrega as importações, provocando saldos
negativos na balança comercial. Mesmo com os EUA arcando, a fundo
perdido, com 20% dos gastos em segurança (aproximadamente 3,5 bilhões de
dólares anuais), Israel só sai do vermelho atraindo novos capitais.
Muro da Cisjordânia, ou "muro do apartheid" para os palestinos, construído pelo Estado de Israel por questões de segurança. Aparentemente esse objetivo foi alcançado, apesar do lançamento de
mísseis provenientes da Faixa de Gaza continuar desafiando a segurança
do país. Mas o custo econômico e social para os palestinos é estrondoso.
Não podem mais buscar empregos nas fronteiras oficiais do Estado
sionista. Sua mobilidade está fortemente limitada. As perdas de
propriedades e plantios são expressivas. Esse cenário estabeleceu uma parede entre Israel e a comunidade
internacional. As Nações Unidas consideram ilegais tanto a ocupação
destes territórios quanto o sistema de segregação espacial. Resoluções
recentes também condenam o processo de colonização judaica dessas áreas,
que deveriam pertencer ao Estado palestino. Assentamentos na
Cisjordânia são oficialmente estimulados, recebem subsídios e têm sua
guarda garantida pelo exército, além de serem encapsulados pelo muro da
separação. Alguns intelectuais e líderes sionistas mais à esquerda passaram a
declarar, nos últimos anos, que Israel estava perigosamente caminhando
para um modelo inspirado pelo apartheid sul-africano, por conta da
estratégia que conduz em relação à questão palestina. As correntes mais à
direita, atualmente no governo, rejeitam a comparação e afirmam que as
medidas respondem apenas às necessidades de combate ao terror. Os críticos desse ponto de vista afirmam que a solução para a paz não
está no erguimento de muros, mas na negociação de um acordo permanente
para a existência de um Estado palestino viável e autônomo. A maioria
das lideranças relevantes, incluindo o primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu, discursa a favor dessa saída. Mas há muitas dúvidas se alguns
dos protagonistas não estão apostando em fazer, do transitório, uma
eternidade. O fato é que Israel chega aos 65 anos de sua independência, celebrados
nesse 14 de maio, como uma nação vigorosa e sólida, mas espetada por
contradições. Exibe vitalidade econômica e poderio tecnológico. Vive,
contudo, os conflitos de um sistema que produz desigualdade social,
discriminação étnica e tentação colonial. Para que o leitor possa conhecer um pouco mais desse país e seus dilemas, Opera Mundi inicia hoje a publicação de reportagem especial sobre Israel.
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