Estreante no Mundial de Clubes, o Atlético-MG resgata com sua inédita
participação no torneio organizado pela Fifa, feito histórico, ocorrido
há 63 anos,e que está marcado até mesmo no hino oficial do clube.
Jogando em terras estrangeiras e geladas, o alvinegro mineiro tornou-se o
"campeão do gelo", façanha cantada com orgulho pelos torcedores
atleticanos. Em 1950, o alvinegro mineiro foi a primeira equipe
do Brasil a viajar para realizar um torneio na Europa, contra
adversários tradicionais e temidos, enfrentando times como Munique 1860,
Hamburgo, Werder Bremen, Schalke 04, todos da Alemanha, além de clubes
da Áustria, Bélgica, França e um combinado de Luxemburgo. Curiosamente, o alvinegro mineiro não foi a primeira equipe convidada a
participar da excursão. Entretanto, foi a única a aceitar viajar para
países que viviam momentos difíceis e de reconstrução, cinco anos após o
término da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A excursão
europeia, que tomou ares épicos pelas condições adversas enfrentadas,
aconteceu de 1º de novembro a 7 de dezembro daquele ano, e foi batizada
como campeonato de inverno, por causa da época do ano e das baixas
temperaturas. Os países pelos quais o esquadrão alvinegro passou foram
Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e França. Além da força
das equipes europeias, o Atlético enfrentou o forte frio como obstáculo.
As partidas aconteceram em gramados cobertos por camadas de gelo,
situação que batizou o alvinegro mineiro de 'campeão do gelo'.
Temperaturas como 12 e 15 graus negativos fizeram parte do dia a dia de
treinos e jogos do time atleticano. "Lembro de ouvir relatos na
época, de que os jogadores tinham de procurar formas para se esquentar,
pois os pés ficavam quase congelados, as mãos. Os membros do Atlético
esquentavam água para ajudar a evitar os problemas do forte frio",
contou o engenheiro aposentado Sebastião Garcia Silva, 75 anos, torcedor
atleticano e que tinha 12 anos na ocasião. O clube alvinegro
estava pouco preparado para enfrentar o frio intenso que enfrentou na
excursão. O grupo viajou com o uniforme que usava no Brasil, de algodão.
Para tentar amenizar o clima adverso, os atletas passaram a jogar com
agasalhos, mais de um par de meia e luvas de lã, artigos adquiridos na
Europa. Lutar, Lutar, Lutar Pelos gramados do mundo pra vencer Clube Atlético
Mineiro Uma vez até morrer. Nós somos Campeões do Gelo O nosso time é
imortal Nós somos Campeões dos Campeões Somos o orgulho do esporte
nacional. TRECHO DO HINO DO ATLÉTICO-MG AUTOR VICENTE MOTTA. Além das temperaturas baixas, os jogadores atleticanos conviveram ao
longo da excursão, com boa presença de torcedores, que ainda viviam com
temor da guerra, gramados em diferentes estados, como no duelo contra o
Schalke 04, na Prússia, aonde o campo não possuía grama, com os atletas
jogando em um campo de terra. Foi contra o Stade Francais que o
Atlético se sentiu mais em casa, mesmo com o frio intenso na França. Ao
entrarem em campo, os jogadores logo escutaram o barulho de baterias
músicas de samba e marchas de carnaval, tocado por estudantes
brasileiros. O Atlético venceu por 2 a 1. A campanha atleticana
teve altos e baixos. Ao todo, foram dez jogos em pouco mais de 30 dias. O
time mineiro venceu seis vezes, tendo o triunfo sobre o Hamburgo, por 4
a 0, como a maior goleada, duas derrotas, para o Werder Bremen e Rapid
Viena e dois empates, com a seleção de Luxemburgo e Eintracht
Braunschweig. "O Atlético viajou desacreditado, muitos achavam
que era loucura viajar para a Alemanha naquela época. Para muitos, o
time iria apenas passear, ninguém acreditava em um sucesso do time, que
era pouco conhecido", comentou Sebastião Silva. Kafunga, Mão de
Onça; Afonso, Osvaldo, Juca, Moreno, Vicente, Zé do Monte, Haroldo,
Barbatana, Vicente Perez e Márcio; Lucas, Lauro, Zezinho, Alvinho,
Nívio, Vavá, Murilinho e Vaguinho participaram da excursão e dos jogos
nos cinco países diferentes. Os artilheiros do time foram Vaguinho e
Lucas, com 6 gols cada um. Vavá é o único dos 'heróis' atleticanos da
campanha no gelo que está vivo. De volta a uma competição internacional, desta vez no Marrocos, o time
mineiro encontra situação diferente, longe do frio enfrentado na
competição do gelo, mas curiosamente, podendo enfrentar um time alemão, o
Bayern de Munique, em uma possível final do Mundial de Clubes. "Mais de 60 anos depois e o Atlético volta a representar o Brasil fora
do país. Hoje, todos terão a oportunidade de acompanhar o time, ver os
jogos, ver Ronaldinho Gaúcho, Diego Tardelli. É uma situação muito
diferente, mas de importância enorme para o Atlético", observou o
ex-jogador do alvinegro mineiro, Paulo Isidoro.
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