sábado, 13 de outubro de 2012

Acidente nos Andes em que jogadores de rúgbi comeram carne humana completa 40 anos


Canibalismo, suportar por meses temperaturas de até -30º C sem roupas apropriadas ou esperança de resgate são alguns dos elementos da história conhecida como o ‘Milagre dos Andes’, que continua fascinando o mundo após 40 anos, lembrados neste sábado, com a presença, em Santiago do Chile, dos 16 sobreviventes, alguns deles jogadores de um time de rúgbi uruguaio. O impacto de sobreviver ao famoso desastre acidente aéreo sobre a Cordilheira dos Andes inspirou nada menos que 13 deles a compartilhar a experiência em palestras motivacionais, nas quais mostram que sua experiência de ultrapassar os limites físicos e mesmo da lógica – racionalmente as chances de sobrevivência sob condições tão adversas pareciam mais um delírio do que um plano coerente – pode ser aplicada em outras situações de vida (veja tabela abaixo).  “Dizem que esta é história de sobrevivência mais importante da humanidade, porque foi protagonizada por gente comum, não éramos superdotados, preparados” disse Carlos Paez ao UOL Esporte.  “Quando se vai escalar o Everest, por exemplo, são feitas preparações para possíveis contratempos, mas não tínhamos nada disso. Nossa história fascina, especialmente no exterior. No Uruguai já estão acostumados, mas fora não. No ano passado por exemplo, eu fiz 102 palestras, em países sul-americanos, de Brasil a México, mas também em várias outras partes do Mundo”, explica ele.  As palestras são encomendadas por empresas, muitas delas seguradoras, para transmitir conceitos de superação e de que as pessoas devem estar preparadas para o inesperado.  O fascínio pela história pode ser explicado por alguns de seus elementos: os sobreviventes foram obrigados a comer a carne de alguns de seus companheiros mortos, além de terem suportado, graças a um inteligente e solidário sistema de divisão de tarefas, mais de dois meses em um dos ambientes mais inóspitos, sob temperaturas de dezenas de graus negativos.  Em 13 de outubro de 1972 Carlos era uma das 45 pessoas a bordo do voo fretado Força Aérea Uruguaia 571 que transportava a equipe de rúgbi Old Christians Club de Montevidéu para uma partida em Santiago do Chile.  Devido ao mau tempo, o avião se chocou contra uma montanha da Cordilheira dos Andes, na remota fronteira entre o Chile e a Argentina. Morreram 18 pessoas imediatamente ou nos dias que se seguiram e os outros não dispunham de alimentos, roupas ou remédios apropriados. A decisão de recorrer ao canibalismo não foi fácil. O sobrevivente Fernando Parrado conta em seu livro Milagre nos Andes que eles tentaram se alimentar até de tiras de couro rasgado de peças de bagagem antes de apelar ao canibalismo. Segundo Paez, decidir se alimentar dos companheiros mortos foi um dos piores momentos que eles passaram nos 72 dias antes da volta para a civilização, mas não o primeiro ou o mais terrível. O primeiro, foi o acidente em si e o segundo, quando ouviram 10 dias depois, que as buscas haviam sido abandonadas.  “Este foi o momento em que mudamos nossa história. Foi quando tomamos as rédeas de nossas vidas e, mesmo sentindo o desespero mais profundo, tomamos a decisão de sobreviver. Nos conscientizamos de que não poderíamos contar com ninguém e que teríamos que resolver sozinhos nosso problema”, disse Paez.  No entanto, as coisas iriam ainda piorar antes de melhorarem. Uma avalanche soterrou  todos por três dias. Mais oito pessoas morreram no incidente. O grupo decidiu então mandar uma expedição buscar ajuda, quando o tempo melhorasse.  A contribuição vital de Paez foi costurar um saco de dormir improvisado para que os dois escolhidos não morressem congelados. Após uma caminhada de dez dias, eles encontraram ajuda. A história rodou o mundo e virou filme. “Foi perigoso me tornar famoso aos 18 anos. Me entreguei ao álcool e drogas, até perceber que havia sobrevivido a tudo aquilo e seria idiota me entregar a um projeto de morte”, conta Paez.  “O acidente não me deixou traumas, mas me tornou uma pessoa muito melhor.” Ele conta que embora os sobreviventes não sejam os amigos mais próximos do mundo, o grupo se reúne de tempos em tempos . No aniversário de 30 anos, em 2002, eles disputaram uma breve partida de rúgbi contra o time chileno dos Old Boys, jogo que não aconteceu por conta do desastre.  
Sobreviventes dos Andes.
1972 O que fazia Hoje   em dia O que faz
José Pedro Algorta Durán - Aos 21 anos, estudava economia. Diretor de empresas, vive na Argentina e tem um blog no qual conta sua experiência de sobrevivência.
Roberto Jorge Canessa Urta - Tinha 19 anos e estudava medicina. Cardiologista, dá palestras sobre sua experiência.
Alfredo Delgado - Aos 24 anos, estudava direito. Funcionário público.
Daniel Fernandez - Tinha 26 anos e estudava agronomia. Engenheiro agrônomo, é também empresário e faz palestras.
Roberto Fernando François Alvarez - Aos 20 anos, estudava agronomia. É produtor agropecuário.
Roy Harley - Estudava engenharia mecânica aos 20 anos. Engenheiro industrial.
José Nicolás Inciarte - Estudava agronomia, tinha 24 anos. Engenheiro agrônomo, também dá palestras.
Alvaro Mangino Schmid - Jogava rúgbi em tempo integral, aos 19 anos. Técnico agropecuário, também é empresário e palestrante.
Javier Alfredo Methol Abal - Tinha 36 anos. É palestrante.
Carlos Miguel Paez Rodriguez -  Aos 18 anos, estudava agronomia. Técnico agropecuário, faz palestras.
Fernando Parrado - Estudava engenharia mecânica aos 21 anos. Produtor de TV e palestrante.
Ramon Sabella - Estudava agronomia aos 21 anos de idade. É empresário e palestrante.
Antonio Vintizin - Estudava direito aos 19 anos. É empresário e palestrante.
Gustavo Zerbino - Estudava medicina, aos 19 anos. Diretor de empresas e palestrante.
Eduardo Strauch - Estudava arquitetura, tinha 25 anos. Tem um estúdio de arquitetura e faz palestras.
Adolfo Strauch - Aos 24 anos, estudava agronomia. É produtor agropecuário e palestrante.
 

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