Sérgio Reis: “Se formos prender todo corrupto que roubou este país, vão
ter de esvaziar o plenário e os palácios. Vai tudo pra cadeia” Cantor sertanejo destoa de seu
partido, da base aliada, e mostra timbre oposicionista. Deputado pela
primeira vez aos 74 anos, ele rejeita a política partidária e diz que
não há democracia no país e que “falta de educação” marca as discussões
na Câmara. Em 55
anos de carreira artística, ele transitou da Jovem Guarda para o
sertanejo. Deu voz a canções como “Coração de papel”, “Menino da
porteira”, “Panela velha” e “Pinga ni mim”, todas com lugar cativo no
cancioneiro popular. Há duas semanas na Câmara, o agora deputado Sérgio
Reis (PRB-SP) ainda aprende como toca a banda em seu novo palco – o
plenário e as comissões. Mas já se revela mais afinado com os
integrantes da oposição do que com seus parceiros de partido, o
governista PRB. Sérgio brada em alto e bom som aquilo que os
oposicionistas sussurram, alguns ainda de maneira constrangida: a defesa
do impeachment da presidenta reeleita Dilma Rousseff (PT).
“Não podemos mais ficar assim. Tem de ter impeachment e dar
satisfação sobre o que fizeram com o dinheiro. Este pessoal está
quebrando o Brasil. Este povo não é dono do país. Este país é do povo
que trabalha”, vocifera o deputado, do alto de seus quase dois metros de
altura, nesta entrevista ao Congresso em Foco. Eleitor de Aécio Neves (PSDB) nos dois turnos da disputa
presidencial, apesar de seu partido ter apoiado a reeleição de Dilma e
integrar o governo, Sérgio Reis classifica as irregularidades apontadas
pela Operação Lava Jato, na Petrobras, como “o maior rombo do planeta” e
diz não acreditar que Dilma e Lula não soubessem dos desvios. “Ela foi
presidente do conselho da Petrobras. Se ela não sabe de nada, se o Lula
não sabe de nada, que mudem de emprego. São incompetentes. Se você não
controla sua casa, muda, vai pra outra”, dispara. Até lideranças da oposição, como o próprio Aécio e o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) admitem que não há elementos políticos
ou jurídicos atualmente para o impedimento da petista. Os governistas
alegam que qualquer tentativa nesse sentido é um golpe. Sérgio discorda.
“O PT que criou essa situação delicada para o Brasil. Não queremos
bagunça no país, não queremos tirar a presidente, mas queremos paz. Do
jeito que está, não conseguimos.”
Amizade com Lula
Filiado ao PRB a convite do deputado Celso Russomanno (PRB-SP) –
campeão de votos entre todos os 513 deputados –, o cantor diz manter boa
relação com Dilma e seu irmão, Igor Rousseff, que vive em Minas Gerais,
e considerar Lula um amigo. Mas ressalta que não mistura amizade com
política. Em sua primeira semana de mandato, Sérgio foi um dos 52
deputados da base aliada a assinar o pedido de criação de uma nova CPI
da Petrobras na Câmara. O deputado afirma que não está preocupado com eventual reprimenda de
seu partido por se insurgir contra a orientação partidária. “Se
reclamar, eu pego as minhas trouxas e vou embora. Eu não vim aqui para
mexer com partido, vim para defender meu povo. Tenho 55 anos de carreira
e de caráter”, afirma o artista, eleito com 45.330 votos. “Se eu tiver
medo de falar as coisas, largo e vou cantar”, acrescenta.
Falta de educação
Um dos quatro parlamentares do PRB que chegaram à Câmara graças à
sobra da votação de Russomanno, que recebeu mais de 1,5 milhão de votos
em outubro, Sérgio conta que ainda não se acostumou a ser chamado de
deputado. Ele também se queixa da falta de educação dos novos colegas. “É um pouco assustador. É muita gente falando junto. Acho isso uma
baita falta de respeito, cada um tem o direito de falar. Quer conversar?
Vem aqui no boteco”, diz. “É muita distância da verdade, porque se eu
venho à Mesa falar de projetos, os caras não estão nem aí. Não sabe se o
projeto é bom ou se é ruim, nem ouvem. Acho isso uma baita falta de
educação”, completa.
Música e TV
Paulistano nascido no tradicional bairro de Santana em 22 de junho de
1940, Sérgio Reis fez parte da Jovem Guarda na década de 1960, criando
em 1967 a música “Coração de papel”. Gravou seu primeiro disco de música
sertaneja, em 1972, lançando a música “Menino da gaita”. Emplacou
diversos sucessos como “Menino da porteira”, “Adeus, Mariana”, “Disco
voador”, “Panela velha”, “Filho adotivo”, “Pinga ni Mim”, entre outros.
Seu disco “O melhor de Sérgio Reis”, lançado em 1981, vendeu mais de um
milhão de cópias.
O cantor optou por adotar o sobrenome de sua mãe, pois não achava o
seu sobrenome Bavini, herdado do pai, adequado para o ramo artístico.
Com 57 discos gravados e atuação em novelas como Pantanal e A história
de Ana Raio e Zé Trovão, na extinta TV Manchete, e em Paraíso e O Rei do
Gado, na Globo, Sérgio Reis diz que agora é hora de retribuir ao povo
brasileiro tudo o que lhe foi dado em sua trajetória. Bem-humorado, ele conversou por uma hora com os entrevistadores em
uma mesa do “cafezinho” da Câmara, espécie de lanchonete com televisão,
sofás, computadores, caixa eletrônico e acesso direto ao plenário.
Alheio à estrutura parlamentar, iniciou a entrevista pegando um dos
gravadores e, simulando que falava ao microfone, fez-se ouvir com seu
sotaque caipira. Alternando instantes de seriedade, indignação, ironia e
leveza, contou “causos”, cantarolou um ou outro verso, e fez rir com a
franqueza de suas sentenças. “Se formos prender todo corrupto que roubou
este país, vão ter de esvaziar o plenário e os palácios. Vai tudo pra
cadeia”, fustigou.
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