Os
episódios da vida de José Honório de Sousa, melhor dizendo, Zeca da
Encarnação (foto), não cabem em um jornal inteiro e dariam um bom livro,
como ele próprio diz: “Eu vivi muito e tenho muitas histórias, umas
posso contar e outras, não”, disse Zeca à reportagem da Folha no final
da manhã do dia 21 de janeiro em seu gabinete na Câmara Municipal de
Itaporanga, poder que começou a presidir dia primeiro aos 84 anos de
idade, completados no último dia 15, o que o faz um dos presidentes
legislativos mais idosos do país. Para
começo de conversa, basta dizer que ele casou-se aos 16 anos com uma
prima de 14 depois de apenas dois dias de namoro, e, claro, contra a
vontade do pai dela, que só anos depois é que aceitou o matrimônio. “Eu
ia para a cidade ser padrinho de um menino, então aproveitei a ocasião
e perguntei se ela não queria se casar; ela aceitou e no mesmo dia nós
casamos, e foi um casamento muito feliz”, comenta Zeca, que é pai de
18 filhos. Com
a primeira esposa, Severina Leite de Sousa, de quem ficou viúvo uma
década e meia depois do casamento, foram 5 filhos. Com a segunda mulher,
Neuza Antas Barros, teve mais três; a terceira e atual mulher,
Francisca Alves dos Santos, lhe deu uma dezena de herdeiros. Zeca é itaporanguense do sítio Cafula. O nome Encarnação vem de sua mãe, Maria Antônia de Jesus, que era chamada de Encarnação. Seu
pai, Honório Francisco da Silva, criou toda a família na roça. “A
gente era nove irmãos, mas só eu, que era o caçula, estou vivo”, diz
sorridente. Hoje
todos conhecem Zeca pela política, mas quem primeiro lhe deu fama foi a
sanfona. Com seu grupo Asa Branca percorreu o Sertão inteiro tocando
festas: dos memoráveis forro de pé-de-serra aos grandes eventos
urbanos. “A gente tocava de tudo: choro, forró, bolero e tudo mais, e
ainda hoje, eu toco”, enfatiza Zeca, que em 1958 foi convidado por um
hotel de Brasília, à época ainda em construção, para animar os
candangos: “Eu passei nove meses lá e só voltei porque gostava muito da
mulher e ela vivia chorando e mandando recado para eu voltar”, conta. O
gosto de Zeca pela música nasceu ainda na infância. Vivendo em uma
área rural, que embora sendo município de Itaporanga, estava mais
próximo de Igaracy, ele foi aluno do mestre Valfredo, contratado pelo
prefeito igaraciense Clóvis Brasileiro para ensinar música aos jovens. Nessa
época também iniciou na sanfona: aprendeu a tocar olhando um
sanfoneiro do sítio onde morava. Passou a integrar o grupo musical do
homem e, aos poucos, foi aprendendo a dominar o instrumento. “Nas
festas, ele se embebedava e eu pegava a sanfona, e assim comecei a
tocar e o povo foi gostando, até que eu comprei a sanfona dele e montei
meu próprio grupo”, narra Zeca, que sofreu forte influência de Luiz
Gonzaga, artista que conheceu pessoalmente “e até fui convidado por ele
para acompanhá-lo, mas não aceitei porque gostava muito da mulher e
não queria deixar ela”. Com
a sanfona, Zeca criou a primeira família e chegou a construir um bom
patrimônio: “nunca faltou festa para eu tocar, e cheguei a comprar
casas e terras com o dinheiro que ganhei tocando”.
Sai a sanfona; entra o fole.
Zeca perdeu a conta de quantas festas tocou ao longo da vida, mas uma, em especial, guarda na memória pela angústia que lhe causou. Foi em Conceição: durante o forró, uma moça negou dança a um rapaz, o que, na época, era considerado uma afronta, principalmente se ela fosse dançar com outro. Por causa disso, uma grande confusão formou-se e uma tragédia deu lugar à festa: foram dois mortos e muitos feridos. “Nesse dia, eu fiz uma prece para não tocar mais e vendi a sanfona”, conta ele.
Sai a sanfona; entra o fole.
Zeca perdeu a conta de quantas festas tocou ao longo da vida, mas uma, em especial, guarda na memória pela angústia que lhe causou. Foi em Conceição: durante o forró, uma moça negou dança a um rapaz, o que, na época, era considerado uma afronta, principalmente se ela fosse dançar com outro. Por causa disso, uma grande confusão formou-se e uma tragédia deu lugar à festa: foram dois mortos e muitos feridos. “Nesse dia, eu fiz uma prece para não tocar mais e vendi a sanfona”, conta ele.
O
período que passou sem tocar dedicou-se à agricultura e à criação de
gado: e uma das secas mais difíceis que passou foi a de 1942, quando as
pessoas escaparam, conforme ele, “comendo batata de maniçoba, e outra
grande seca foi em 32: eu era muito pequeno, mas ainda lembro: nesse
tempo, o povo escapou comendo folha de bredo”. Foram
15 anos sem tocar, até que, um certo dia, um fole surgiu na sua vida:
“uma mulher ganhou um fole de oito baixos em uma rifa e veio me
oferecer: disse a ela que não queria, mas terminei comprando, então
comecei de novo a tocar”, diz. Com
o fole, reconquistou a fama de grande tocador: percorreu várias parte
do país, conquistou prêmios, festivais e muitos aplausos. Recentemente
foi convidado para uma apresentação em Patos e também esteve no Cariri.
Apesar de tanto sucesso, nunca gravou um CD, o que pretende fazer este
ano.
A política:
Zeca
da Encarnação entrou na política na década de 60 com a emancipação do
município de Igaracy: foi vereador por três legislaturas e lá também
foi vice-prefeito na gestão de Djaci Brasileiro, hoje prefeito de
Itaporanga. Na
década de 80 passou a residir em Itaporanga, onde já mantinha muitas
relações de amizade e de negócio, e aqui sequenciou a carreira
política: está no seu terceiro mandato e, em abril do ano passado, foi
eleito presidente da Câmara para o biênio 2011/2012. Zeca
sempre teve uma participação ativa na sociedade: além de político e
músico popular, também teve o seu momento de desportista: presidiu o
Mil Réis, quando o time participou da primeira divisão do campeonato
paraibano. Sempre
foi um homem prestativo e atencioso, o que o levou a se tornar
bem-sucedido na política: elegeu-se muitas vezes e foi decisivo na
eleição de muitos amigos e familiares. “Política para mim é uma coisa que traz alegria, mas também muito aborrecimento e tristeza, mas não podemos desistir”, comenta.folhadovali.com.br